Entre Trump e Olavo, a imagem síntese do governo Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
Leonardo Attuch
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Um dos maiores erros dos analistas políticos no Brasil é dividir o governo Bolsonaro entre uma ala de ministros técnicos, uma ala militar e uma suposta ala formada por ministros "ideológicos", que teria como principais representantes Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Abraham Weintraub, da Educação – os ministros "olavistas" que seriam protegidos pelo deputado Eduardo Bolsonaro, que por muito pouco não foi indicado embaixador do Brasil em Washington.
Não há e nunca existiu uma ala "ideológica" no governo Bolsonaro, até porque ninguém jamais teorizou sobre crimes de lesa-pátria como uma ideologia. O que existe, pura e simplesmente, é um grupo de ministros que atua na defesa direta dos interesses dos Estados Unidos no Brasil – e que, portanto, age de forma consciente e deliberada contra os interesses econômicos e geopolíticos do Brasil. O chefe da turma, Eduardo Bolsonaro, volta e meia viaja aos Estados Unidos para receber instruções. Ernesto Araújo, na prática, é um funcionário de Mike Pompeo, chefe do Departamento de Estado, e se dependesse de sua vontade, o Brasil já teria entrado em guerra contra a Venezuela. Weintraub, por sua vez, agride a China reiteradamente, porque escolheu um lado na guerra em curso entre as duas maiores potências globais – e certamente não é o lado do Brasil, que deveria se manter equidistante.
Volta e meia, há quem diga que Ernesto Araújo e Abraham Weintraub são "loucos" ou "burros". Nem uma coisa nem outra. Ambos sabem muito bem o que estão fazendo e conhecem também as consequências de seus atos. Sabem que, no limite, o Brasil poderá sofrer retaliações econômicas da China, que é o país que mais investe no país e também o que mais importa produtos nacionais, mas não se importam com isso. O que interessa à dupla é agradar aos patrões. E ambos sabem que Bolsonaro deve sua eleição ao pesadíssimo esquema de fake news desenvolvido pela extrema-direita estadunidense e por Steve Bannon – um personagem que já declarou que o Brasil é o principal território em disputa por Estados Unidos e China. O "guru" da dupla, Olavo de Carvalho, também não é burro nem louco. É interlocutor frequente de Bannon, de onde partem as ordens de comando para o Brasil.
Não por acaso, neste fim de semana, Weintraub atacou a China tanto no sábado como no domingo. Não foi acidental. Primeiro, disse que o coronavírus não passa de um plano chinês para dominar o mundo. Depois, afirmou que outros vírus virão da China, porque seus habitantes não teriam educação alimentar. Weintraub é burro? É louco? Não, obviamente que não. É apenas um inimigo do Brasil e do povo brasileiro, assim como todos que volta e meia são apontados como representantes de uma suposta ala ideológica.
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