terça-feira, 24 de novembro de 2020

O racismo fede, por Izaías Almada

O cansaço e o desanimo são gerais. Há dois anos, pelo voto, colocaram a raposa para tomar conta do galinheiro e o esgoto da mediocridade transbordou pela tampa dos bueiros.

          Por Izaias Almada

O racismo fede

por Izaías Almada

Difícil não escrever com o fígado após o assassinato do cidadão João Alberto Silveira Freitas em Porto Alegre na passada semana. A cada dia que passa, fica quase impossível escrever somente com o coração ou, minimamente, com a razão.

Já não basta denunciar o racismo, o feminicídio, a parcialidade da justiça, o fanatismo e a intolerância religiosa, a desigualdade social e outras tantas mazelas da sociedade brasileira.

Fétida e amedrontadora, a boçalidade de boa parte da chamada classe média brasileira e seus delírios de ascensão social sustenta-se numa miscigenação feita toda ela de preconceitos e ódios pela pobreza de milhões de compatriotas e pela cor de sua pele.

Se falarmos dessa excrescência chamada de “elite” então…

O cansaço e o desanimo são gerais. Há dois anos, pelo voto, colocaram a raposa para tomar conta do galinheiro e o esgoto da mediocridade transbordou pela tampa dos bueiros.

Os recalcados e os incompetentes passaram a ter maior voz no país, domesticados que são há anos por uma imprensa suja e mentirosa, cujo objetivo principal não é informar com transparência, mas defender seus interesses econômicos e de seus principais anunciantes.

De um lado a frustração dos sonhos daqueles que lutaram por um país decente e dono de seu nariz. Do outro, a sensação do poder, ridiculamente baseado nos velhos filmes de caubóis de Hollywood: quem sacar primeiro tem a oportunidade de continuar vivendo.

Fede o racismo, a arrogância intelectual, seja de esquerda ou de direita, fedem os candidatos em vésperas de eleições, fede a ganância dos banqueiros, a independência dos três poderes (sic), fede o poder judiciário, o poder legislativo e o poder executivo.

O uso de máscaras, descartáveis ou não, ajuda não só na defesa contra o Covid-19, mas serve também para nos impedir, na medida do possível, de sentir os odores que se despegam das entranhas de um país que, de ameaça em ameaça no decorrer na sua história, bota as manguinhas de fora no uso da violência: um país com déficit educacional, um país do “jeitinho calhorda” de resolver conflitos, um país com complexo de vira-latas, sempre a abanar o rabinho para as grandes potências… A lista é enorme e enfadonha.

Passadas as eleições municipais, onde pelo menos 70% dos candidatos desnudou a sua mediocridade para os cargos que se dispunham a ocupar em mais de cinco mil municípios brasileiros, o país vai se preparar para a temporada de caça ao poder federal e estadual em 2022.

Briga de foice no escuro, onde a descrição do poeta Dante Alighieri sobre o Inferno na sua Divina Comédia fica com ares de um delicado romantismo clássico.

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