quinta-feira, 4 de março de 2021

Bolsonaro: por que a sociedade brasileira não expulsa o genocida do poder?, por Eduardo Ramos

Reflitamos um pouco sobre a questão. Porque aceitamos, enquanto nação, enquanto sociedade, a permanência no poder de um presidente que é visto em todo o mundo como um demente perigoso, incompetente e incapaz?

             Por Jornal GGN 
Poder360

Bolsonaro: por que a sociedade brasileira não expulsa o genocida do poder?

por Eduardo Ramos

No mesmo dia dois posts na internet me chamam a atenção: o primeiro revelando mais uma ação estarrecedora do ser inominável que nos governa. O segundo, fazendo uma pergunta que muitos brasileiros se fazem sem encontrar uma resposta exata.

O post com a ação perversa é um artigo no GGN, intitulado “Com 250 mil vidas perdidas, Bolsonaro questiona uso de máscara e isolamento social”, onde, mais uma vez, vemos Bolsonaro tratar com desdém as recomendações da OMS sobre a necessidade imperiosa do uso de máscaras e o isolamento social.

O post com a pergunta, é um twitter na página de uma amiga, no Facebook, em que uma epidemiologista brasileira ao ser entrevistada por um jornalista alemão é indagada sobre “como os brasileiros, com esse número de mortes (250.000) não se revoltam, não se insurgem?” E no twitter, ela confessa sua resposta: “Eu não sei…”

A “coincidência” dos dois posts, é uma ironia horrenda que depõe contra todos nós. E talvez estejamos num momento tão insano, nonsense e perverso de nossa História, com a destruição de toda a dignidade e capacidade de ação normal e civilizatória de nossas instituições – talvez o estrago provocado nos últimos anos tenha sido profundo demais!… – que o “Eu não sei” dito pela cientista brasileira, esteja engasgado na garganta de todos nós.

Reflitamos um pouco sobre a questão. Porque aceitamos, enquanto nação, enquanto sociedade, a permanência no poder de um presidente que é visto em todo o mundo como um demente perigoso, incompetente e incapaz?

A primeira resposta que me vem à mente, é que essa não-reação tem a ver diretamente com A PERDA DE PARÂMETROS DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS BRASILEIRAS POR CONTA DA LAVA JATO!

A verdade, é que fomos descendo a ladeira das bases civilizatórias e de um Estado de Direito que bem ou mal mantínhamos nos governos pós-ditadura, e que nos inseriam na comunidade internacional, mesmo que um pouco precariamente, nisso, que os outros países reconhecem como “mundo civilizado e democrático”. O fim dessa ladeira é esse pântano fétido, essa areia movediça onde fomos jogados, todos os brasileiros, incluindo aí os que nele nos jogaram – ninguém escapa imune desse lodaçal!

Cada princípio constitucional violado, cada lei pisoteada, cada farsa, cada violência, cada ódio estimulado pela Lava Jato, foi como um abrir as torneiras de todos os esgotos do “mundo-cão”, do que é selvagem, incivilizado, doentio, com cores berrantes das coisas mais absurdas e perversas que uma sociedade, uma nação, pode experimentar!

Por isso a omissão covarde do STF é imperdoável, bem como o estímulo histérico, festivo e proposital da grande mídia ao festival de horrores perpetrado pela Lava Jato.

Houvesse um Tribunal Internacional honesto, Moro, Janot, STF e os procuradores, receberiam prisão perpétua por uma tão dantesca destruição de um país que caminhava dentro dos trilhos da normalidade humana, em parâmetros razoavelmente aceitáveis, nos governos Lula e Dilma.

A catatonia, a exaustão, a confusão mental e a perplexidade causadas pela Lava Jato, por esse processo todo, são, penso eu, a PRIMEIRA GRANDE CAUSA dessa não insurgência contra Bolsonaro.

A segunda causa abrange de uma só tacada, grande mídia, Bancos, especuladores, grandes empresários: Bolsonaro não cai, por incrível que pareça, PORQUE PARA O MERCADO NO FUNDO NÃO IMPORTA SE SÃO CEM MIL OU QUINHENTOS MIL MORTOS, desde que as reformas prometidas e as privatizações em série, se cumpram nos próximos dois anos. E Bolsonaro sabe que esse é o “colchão” onde pode se deitar tranquilamente, porque essa parcela poderosíssima da sociedade civil é capaz de engolir seu genocídio, suas besteiras e demências, seu lado patético e vulgar, sem qualquer problema de consciência, já que a ÚNICA função de sua existência se resume a poder e lucro, poder e lucro, poder e lucro, num ciclo eterno…

Bolsonaro não passa de um inconveniente ESTÉTICO no meio desse processo. Nenhum deles acredita de verdade que Lula era ou é corrupto, nenhum deles é capaz de dizer que Bolsonaro tem 10% da capacidade de governar o Brasil se comparado a Lula, a questão é ABSOLUTAMENTE A MESMA: PODER E LUCRO!

A terceira causa para Bolsonaro permanecer no poder é o apoio dos militares, que, literalmente, entre a honra e a dignidade da farda de que tanto se orgulham, e o serviço que poderiam ter prestado à democracia e ao povo brasileiros, ESCOLHERAM, do mesmo modo mesquinho que as grandes oligarquias privadas, o binômio PODER E LUCRO!

Foram poupados na reforma da Previdência, ganharam milhares de cargos na estrutura do governo federal, tiveram aumentos salariais gigantescos, enfim, “venderam suas almas ao diabo” em troca de um conforto maior para seus corpos e suas famílias. À semelhança de Jarbas Passarinho e sua famosa frase na edição do AI-5, sua ação no governo Bolsonaro é: “Às favas todos os escrúpulos!”.

A parcela dos militares que se opõe a Bolsonaro se cala, provavelmente por medo de retaliações em um mundo fechado e altamente hierarquizado, com punições severas contra os que ousam “pensar por si mesmos”.

Ou uma reação vem um dia, de parte do alto escalão das Forças Armadas, ou seguiremos aturando figuras patéticas e doentias como os generais Heleno e o Villas Boas.

A quarta e última causa que aponto, é a indiferença crônica e secular de nossas elites e classes médias com o destino do Brasil e com a situação dos nossos pobres e miseráveis, com quem nunca, de fato, se importaram.

Só com citações de nossos maiores intelectuais, encheríamos algumas dezenas de páginas descrevendo nossa classe média, mas citaremos apenas o básico em relação a todo esse processo e sua inação em relação a Bolsonaro: A CLASSE MÉDIA BRASILEIRA NÃO AGE JAMAIS! ELA REAGE, QUANDO TANGIDA E ESTIMULADA POR AGENTES EXTERNOS.

Em todo o processo sócio-político que levou ao impeachment da presidente Dilma, a prisão de Lula, o fim de nossa democracia, civilidade e o próprio Estado de Direito, a classe média brasileira foi INOCULADA com um ódio, um nojo, um fanatismo, jamais vistos em nossa História. MBL, Revoltados online nas redes sociais, rede Globo na TV e os jornalões, além da revista VEJA, fizeram o trabalho.

Reparem como é nítido hoje, a calmaria, a pasmaceira que foi o governo Temer, mesmo com as roubalheiras em proporções inacreditáveis. Onde a “indignação” desses mesmos “brasileiros de bem”?

Exatamente a mesma coisa ocorre agora, APESAR DA DEMÊNCIA, DO RIDÍCULO, DOS VEXAMES, DO GENOCÍDIO: a classe média que teve voz, força e atitude para apoiar a Lava Jato, depor Dilme e prender Lula, queda-se, apática, mansa, salvo algumas queixas em seus grupinhos de whatsapp, contra um genocida, cujas falas e ações ampliaram em dimensões trágicas o número de contaminados e mortos em nosso país.

A falta de Educação, civilidade, embasamento de conhecimentos gerais em História, Filosofia, Sociologia, Política, faz dessa sociedade uma caricatura, uma pantomima…. Ufanam-se por seus conhecimentos técnicos específicos que lhes permitem ganhar dinheiro, status, conforto, o que lhes dá a narcísica e patética sensação de superioridade social, exacerbada em um país de pobres e miseráveis em sua grande maioria.

Como a mídia e as redes sociais não criaram ainda um ambiente histérico e paroxístico, não há o estímulo que os faz reagirem. Daí a sua inércia.

Resta a nós, os brasileiros conscientes de todo o processo, as reflexões e ações que possam expelir da Presidência o pior governante da História do Brasil. E torcer para que nossas lideranças saiam igualmente da inércia, da paralisia, e articulem soluções políticas – só em 2022, talvez…? – que nos permitam um dia assumir essa montanha de escombros que o Brasil está virando, e recomeçarmos, mais uma vez.

(eduardo ramos)

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