Créditos da foto: Lula assina a ata de fundação do PT (Juca Martins)
Por Emir Sader
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O PT nasceu como parte da resistência democrática à ditadura militar. As greves operárias dirigidas pelo Lula foram um golpe mortal a esse regime, ao romper com o arrocho salarial, peça central da política econômica da ditadura.
Já no seu nascimento o PT surgiu como um partido distinto da velha esquerda. Nasceu já com o direito a que as tendências se organizassem e se expressassem, com representação nos distintos níveis das suas direções.
O PT sempre valorizou as conquistas do processo de redemocratização no Brasil, mas sempre as considerando insuficientes. O PT nunca dissociou o socialismo da democracia.
O PT sempre valorizou as conquistas sociais dos países socialistas, sem nunca assumir modelos políticos de partido único. Sempre considerou que o socialismo tem que ser profundamente democrático.
Paralelamente ao surgimento do PT deu-se a discussão sobre a democracia como valor universal, formulada especialmente por Carlos Nelson Coutinho, ao mesmo tempo em que apareciam as correntes do eurocomunismo em Partidos Comunistas da Europa ocidental. O tema ganhou relevância porque a esquerda do século XX sempre foi acusada de subestimar a democracia em favor das transformações sociais.
O modelo soviético sempre esteve no centro dessas discussões. Um modelo que promovia grandes conquistas econômicas e sociais, mas no marco de um sistema politico não democrático. Um sistema de partido único intrinsecamente não é democrático, não supõe a diversidade de pontos de vista e o debate democrático.
O PT sempre apontou para um socialismo que fosse, ao mesmo tempo, o máximo de democracia. E quando o PT passou a governar o país, com os governos do Lula e da Dilma, fez o governo mais democrático que o Brasil já teve. Com o respeito às instituições republicanas, tanto ao Judiciário quanto ao Congresso, com respeito à oposição e a todos os que pensam diferente.
Quando faz referencia a países como a Nicarágua, a Venezuela, a Cuba, o PT sempre respeita as decisões internas dos povos desses países, considera que são eles que devem decidir, soberanamente os seus destinos, sem qualquer interferência externa. O PT sempre condenou e lutou contra o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba, bem como todo tipo de invasão ou interferência de outra ordem contra a soberania de cada país.
Antes mesmo da eleição na Nicarágua, quando Daniel Ortega se lançou candidato de novo, Lula fez uma critica pública a ele, contra a reeleição indefinida. O próprio Lula foi um exemplo de quem respeita os mecanismos institucionais. Tendo saído do governo com 87% do apoio, houve apelos, até mesmo de setores empresariais, para que ele se candidatasse a terceiro mandato – para o que teria que ser mudada a Constituição – ele se negou, lançando a candidatura da Dilma.
Da sua maneira, o PT assumiu a ideia de que a democracia é um valor universal, que não deve ser relativizada em nenhuma circunstância. Diferencia-se assim da velha esquerda, daquela que tomava o modelo soviético de socialismo como referência, que valorizava as transformações econômicas e sociais em detrimento da democracia. Apoia as conquistas importantes de países como Cuba e a Venezuela, mas sem com isso incorporar o sistema político desses países a seu programa.
Quando houve a recentes manifestações em Cuba, Lula afirmou que todos devem ter o direito de se manifestar em função dos seus interesses, sejam corretas ou não suas posições. Não representa um apoio aos que se manifestaram, mas defende o direito de se manifestarem.
O PT sempre defendeu sistemas políticos pluralistas, com a presença de todas as forças democráticas. Ninguém pode duvidar dos critérios do PT e dos seus governos. O PT conquistou governos sempre por meios democráticos, governou democraticamente.
O PT conquistou a presidência do Brasil por eleições democráticas, foi reelegido democraticamente três vezes e só foi derrubado do governo por um golpe, pela ruptura da democracia, que levou o Brasil à situação catastrófica atual. O PT luta denodadamente pelo retorno da democracia, para voltar a disputar democraticamente a presidência do país e voltar a governar democraticamente o Brasil.
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