Leonel Brizola e Ciro Gomes (Foto: Reprodução/PDT | Nacho Doce/Reuters)
"Vamos esperar que, aconteça o que acontecer no segundo turno, não vá depois para a sua segunda viagem para Paris", escreve o jornalista Moisés Mendes
Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia
Brizola estaria comemorando cem anos neste sábado. Há 20 anos, participou do seu último grande projeto político, com uma cartada surpreendente na época: a aposta em Ciro Gomes.
Ciro seria o seu candidato a presidente, para que conseguisse o que ele tentou uma vez e que não tinha mais idade para tentar de novo.
Brizola morreu dois anos depois, e Ciro está aí outra vez como candidato do trabalhismo. O detalhe é que o Ciro recém-acolhido pelos trabalhistas em 2002 era o candidato do PPS, partido criado como herdeiro do PCB.
Brizola atraiu Ciro como o seu escolhido e fez o primeiro test drive no Rio Grande do Sul, em agosto daquele ano. Estava com eles Antônio Britto, ex-PMDB, candidato ao governo do Estado também pelo PPS.
No dia 24 de agosto, ao lado do túmulo de Getúlio Vargas em São Borja, eu vi a cena constrangedora de um militante trabalhista anônimo, misturado à multidão, que gritou a poucos metros de Brizola, Ciro e Britto:
– É o enterro do trabalhismo.
Foi um alvoroço e o homem desapareceu entre os túmulos. Lula venceu aquela eleição. No Estado, o deputado Germano Rigotto (PMDB) apresentou-se como a terceira via que dava certo e tirou Britto do segundo turno. No duelo final, venceu Tarso Genro.
O trabalhismo pode não ter morrido, mas não tem mais nada do que existiu enquanto Brizola existia.
É compreensível que alguém tente identificar as diferenças entre o Ciro Gomes de 2002 e o Ciro de agora. Porque entre o Brizola de 20 anos atrás e o de hoje não haveria diferença.
Aquele Ciro tinha Brizola ao seu lado. Brizola impedia que ele dissesse bobagens. Ciro também atraía atenções por ter por perto a presença forte de Patrícia Pillar.
Achava mesmo que seria herdeiro do trabalhismo, por ter a bênção de Brizola. Aquele Ciro fumava muito, em qualquer lugar (eu também fumava), e tinha posições genéricas de esquerda. Defendia até a reforma agrária, mas sem ocupações.
Patrícia o acompanhava, sempre negando-se a dar declarações políticas. Parecia tão deslocada naquela andança de dois dias por São Borja, Itaqui e Uruguaiana quanto alguns que surgiram no entorno de Brizola.
A caravana era estranha e incluía até o deputado Roberto Jefferson, que apenas ficava nos cantinhos e andava ao redor de coletivas, rodinhas e discursos.
Não dizia nada e ninguém falava com ele. Jefferson assumiria um ano depois a presidência do PTB, que estava no grupo como aliado de Ciro.
O comboio gigante que passou pelas três cidades tinha até integrantes do PTdoB, aliado de Britto, que depois virou o Avante. Muita gente não sabia direito o que fazia ali.
Em duas décadas, Ciro não saiu da estrada, depois de ter andado com Lula e se voltado contra Lula. É PDT desde 2015 e conseguiu, mesmo com as desconfianças internas, se manter como nome do partido à disputa pela presidência.
Para relembrar, em 2002 achavam que ele era um coronel progressista. Depois, achavam que era esquerdista demais e isso e aquilo. Mais tarde não achavam mais nada. Hoje, não se sabe direito o que acham.
Ciro já acenou bastante para a direita nos últimos meses, viu que não deu muito certo, bateu em todo mundo e agora dizem que busca sensibilizar os jovens com o slogan ‘A rebeldia da esperança’.
Mas quais jovens? Quem são e o que pensam os jovens no Brasil hoje? Não são perguntas de idosos que até hoje não entendem os movimentos de 2013 e a resignação que consumiu rebeldias desde aquele inverno dos black blocs que levou a Globo pra rua.
São interrogações para as quais a ciência política não se esforça para perseguir respostas, porque ainda incomodam. Os jovens de hoje querem saber do lirismo cirista da rebeldia com esperança? Onde se meteram e o que são hoje os quarentões que eram os jovens de 2013?
No meio dessas perguntas, lá vem o Ciro de novo, porque é preciso insistir. Lula disputou três eleições e venceu na terceira tentativa. Sempre relembram que o mesmo já havia acontecido com François Mitterrand e outros que perseveraram até vencer.
Ciro vai para a sua quarta eleição a presidente, depois de 1998, 2002 e 2018. Vamos esperar que, aconteça o que acontecer no segundo turno, não vá depois para a sua segunda viagem para Paris.
Viva Brizola.
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