"O impeachment da presidenta Dilma conseguiu reunir as duas patologias da lei. Justiça com as próprias mãos e higienização de seus executores. Onde estão os que queriam a limpeza do país e diziam que Dilma era a primeira e depois viriam os outros? Onde estão os covardes que se escondem atrás da patologia da lei? Os que se juntam no 'bom senso' desaparecem na hora de assumir que quem quer fora Dilma, quer fora Temer. Caso contrário: golpe."
Temos um fascínio pela ideia de lei, pois ela representa o limite entre o que temos que aceitar e o que é possível mudar, no mundo, nos outros e em nós mesmos. A lei contém dentro de si tudo o que nós repudiamos e interditamos em nós mesmos, mas ao mesmo tempo condiciona nossa liberdade. Em nome da lei aceitamos violência, poder e força. Contudo, a lei pode tornar-se um fetiche quando se unifica em uma totalidade estática e imóvel e sem história. Isso ocorre quando as diferentes formas da lei, como as leis da natureza, a lei da gravidade, as leis de Deus, as leis do Estado e as pequenas leis que regulam nossa vida diária. Cada vez que alguém tem sua razão reconhecida temos o embrião de uma lei. Por isso, com relação às leis ocorre o mesmo que Descartes dizia do bom senso, ou seja, que ele é a coisa mais bem distribuída do mundo, ninguém se atribui sua falta e todos se arrogam possuí-la. Foi também o “bom senso” que estabeleceu que “nada poderia ser pior do que o governo Dilma Rousseff”.