terça-feira, 19 de agosto de 2014

O SORRISO DE MARINA

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Esta foi a explicação do vereador de Poá-SP, no Facebook, sobre a foto em que Marina aparece sorrindo durante o velório de Eduardo Campos.

 “Num certo momento da madrugada, eu perguntei para Dona Renata, na presença de Marina, no que consistia a força admirável dos meninos e dela, principalmente, demonstrada diante de tamanho sofrimento e de tamanha dor.


Ela calmamente tocou o porta-retrato do Eduardo que estava sob o caixão e contou do quanto achava lindo o sorriso dele, do quanto ele inspirava a família a sorrir em todos os momentos da vida mesmo quando a dor fosse uma tortura.
Então, disse que estava orgulhosa dele porque conseguiu deixar uma mensagem para o Brasil e realizada porque ele deixou um legado inspirador. Por fim, ela relembrou, como bom nordestino, do quanto ele gostava de contar ‘causos’ e alegrar a vida de todos por onde passava.
Então, sorrimos. Nós cinco.”

Talvez a explicação acalente alguns espíritos, até porque "o sorriso" foi extensivo aos familiares, segundo o vereador. Mesmo assim, fico na dúvida. Nossa cultura não permite satisfação em velório. O contexto, em si, é de saudade, de dor, de ausência, de perda. Tudo isto numa alma só e ainda ter lugar para sorrisos é, no mínimo, estranho. Familiar sorrindo em velório pode ser muita coisa, menos satisfação. Quem está “fora” até pode querer entender. Muitas vezes o familiar quer se mostrar forte, demonstrar para si mesmo que aceita a inevitabilidade da morte. Às vezes, ingere algum medicamento para “melhor” suportar a dor. Tudo isto não afasta o que a morte representa para nós. Morte é dor mesmo. É olhar para o infinito e não se encontrar, se sentir perdido e sem rumo. É perda, é vazio, é a alma sendo torturada. Agora, para quem está “fora” o sentimento deve ser outro. Deve ser aquele sentimento de respeito ao pesar do outro, quaisquer que sejam as manifestações do outro. Quando digo respeito, é aquele sentimento que nos faz perder a palavra. Que não venham as lágrimas, mas que se imponha o silêncio. Se motivo houver para um sorriso, que venha, mas sutilmente acobertado por um gesto de contenção. Por favor, nada eleitoreiro. Não votaria no Eduardo Campos, mas fiquei triste com sua morte. Por vezes, ao ler algumas matérias, as lágrimas avisaram. Sentimentos diversos: a violência do acidente, o desespero dos familiares, os sonhos interrompidos e tudo o mais que nós humanos podemos acalentar... em minutos já não existiam mais. Isso não tem graça nenhuma.

Nonato Menezes

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