Luis Fernando Verissimo, lido no
O economista francês Thomas
Piketty deu uma entrevista à revista alemã Die Zeit em que disse, entre outras
coisas, que antes de exigir o pagamento a qualquer custo da dívida grega os
alemães deveriam lembrar seu passado de devedores.
Segundo Piketty, a Alemanha nunca
pagou suas dívidas. Cobrou, com a mesma intransigência de agora, a dívida de
outros, como a reparação paga pela França com muito sacrifício depois da guerra
franco-prussiana de 1870, mas não pagou sua própria reparação depois da 1ª
Guerra Mundial.
Esta dívida foi perdoada em 1934,
o que desmente a tese de que foram as exigências dos vencedores da guerra que
levaram a Alemanha, ressentida, a seguir Hitler. Em 34 a Alemanha não foi
humilhada, como diz a tese. Foi perdoada.
Em 1953, depois da 2ª Guerra
Mundial, numa conferência realizada em Londres, decidiu-se perdoar 60% da
dívida alemã, uma generosidade muito maior do que a que os gregos estão pedindo
agora.
Foi este presente que
possibilitou à Alemanha derrotada na guerra iniciar o “milagre” que a
transformou na potência econômica que é hoje, na posição de mandar na economia
de toda a Europa e pregar a austeridade e a “responsabilidade” que ela mesmo
exemplifica. Uma superioridade moral conquistada de calote em calote.
Na entrevista, Piketty faz um
histórico de dívidas nacionais através dos tempos, mostrando como há várias
maneiras de cobrá-las ou equacioná-las além da ortodoxia assassina receitada
por Ângela Merkel, mais preocupada com a saúde dos bancos credores do que com a
saúde de populações inteiras privadas de assistência social pela tal
austeridade.
O que a Alemanha desmemoriada não
admite é que façam como ela fez, e não como ela manda.
O primeiro-ministro da Grécia não
tem idade suficiente para conhecer um bolero chamado “Hipocrita”, do tempo em
que havia boleros. Se soubesse, poderia serenar a senhora Merkel com ele, na
próxima vez em que se encontrassem. O bolero começa assim:
“Hipocrita… Secilamente
hipocrita…”
E termina assim:
“Escuchame e comprendeme,
no puedo ya vivir
como hiendra del mal
tu me enredaste
y como no me queires
me voy a morir”.
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