Os Estados Unidos não estão nem
um pouco interessados em abrir mão do seu estilo prepotente para conter o
aquecimento global.
Najar Tubino // www.cartamaior.com.br
O capitalismo esclerosado está em
convulsão mais uma vez. As maiores petrolíferas do mundo demitiram mais de 100
mil pessoas em 2015, 30 mil somente na Noruega. O gás de xisto, considerada a
última maravilha do neoliberalismo dá sinais de falência literal – as empresas
prestadoras de serviço como Saipem, Schlumberger, Weatherford, Baker and Hughes
e Halliburton foram responsáveis por quase 50 mil demissões. Isso no ano
passado e o setor de petróleo e gás se prepara para a segunda onda de demissões,
corte de investimentos e fechamentos de poços em 2016. Em 10 anos, os bancos
dos Estados Unidos emprestaram US$1 trilhão para estas empresas. Como forma de
multiplicar os lucros, fatiaram os negócios e venderam ao mercado. As agências
de classificação como Standard & Poors e Moody’s rebaixaram as notas de
empresas como Chevron e Shell, além de outras dez menos conhecidas. A
ExxonMobil, maior petrolífera do mundo está ameaçada de perder o AAA.
Incluindo a BP, do Reino Unido,
todas estão cortando despesas, tiveram queda no faturamento e reduziram os
lucros, desde o ano passado. A Exxon em 20%, a Shell em 57%, a Chevron em 30%.
A redução de investimentos alcançará mais de 75 bilhões de dólares – em 2015
foi de US$595 bilhões e a previsão para 2016 é que não passe de US$520 bilhões.
Mas este ainda não é o maior problema, além da redução histórica nos preços do
barril do petróleo. Os contratos na Bolsa Mercantil de Nova York com vencimento
em março apontam para uma cotação do petróleo leve (WTI) a US$27,94 e o Brent,
usado como referência na Europa, a US$30,51.
Bolsas já perderam US$15 trilhões
As petrolíferas precisam de
dinheiro até abril para pagar US$31 bilhões em dividendos aos seus acionistas,
principalmente fundos de pensão, aposentados e fundos especulativos que têm nas
ações da Exxon, Shell, BP, Crevron e Conocophilips uma garantia de renda anual.
A Exxon aumenta os dividendos há 33 anos seguidos e a Shell desde 1945 não
deixa de pagá-los. Entretanto, os títulos e ações do setor de petróleo e gás se
arrastam no tufão que tomou conta das bolsas no mundo inteiro, em 2016 já
perderam US$15 trilhões. O setor do fracking dos Estados Unidos tem um déficit
de US$169 bilhões – em 2010 era de US$81 bilhões.
Existem mais de um milhão de
poços de exploração de gás de xisto nos Estados Unidos – a rocha sedimentar que
tem entre 5 e 10% de betume, que a criatividade industrial suga através da
injeção de água misturada com areia e fluídos de hidrocarbonetos como benzeno,
tolueno e etil benzeno, ou até mesmo óleo diesel. São 240 bilhões de litros de
água poluídas que saem desses poços, sem contar o metano liberado na atmosfera.
Sim, nós mandamos
Para coroar a convulsão perfeita
do mercado, a Suprema Corte dos Estados Unidos, numa contagem de 5 a 4 – cinco
conservadores, segundo a mídia – trancou o Plano de Energia Limpa do presidente
Barack Obama, que está ameaçado de entrar para a história como o maior demagogo
do planeta, ao anunciar na COP 21 que os Estados Unidos cortariam 32% das
emissões de gases das usinas de eletricidade, a maioria movida a carvão até
2030. O refrão “sim, nós podemos”, virou “sim, nós mandamos” dos republicanos
como Paul Ryan, presidente da Câmara dos Deputados que pretende enterrar
definitivamente a pretensão de Obama.
“- Essa regulação deve ser
derrubada de forma permanente, antes que a indústria de carvão seja
completamente destruída e os consumidores americanos sejam condenados a pagar
mais caro pela energia”, disse ele, depois do anúncio da Suprema Corte, que
ainda passará por uma revisão em junho num Tribunal de Recursos do Distrito de
Colúmbia.
Ninguém sabe o que acontecerá em
2016
O poder conservador mostra que
não está nem aí para o aquecimento global ou o que o restante da humanidade
pensa sobre o grave problema que afeta os sete bilhões de habitantes. Foi uma
decisão inusitada, a toque de caixa, para repercutir na campanha presidencial,
e mostrar ao mundo que os Estados Unidos não estão nem um pouco interessados em
abrir mão do seu estilo – carro, sanduíche gorduroso, obesidade e prepotência.
Mesmo assim o mercado continua
derretendo. A briga entre Arábia Saudita e Irã é apenas uma face do problema.
No rolo atual todos estão jogando mais petróleo no mercado, o Iraque vende a 25
dólares o barril para a Ásia, Noruega e Canadá vendem a 22 dólares. Não há mais
parâmetro. Nenhum banco consegue prever petróleo custando mais do que 60
dólares durante 2016. A Agência Internacional de Energia prevê um milhão de
barris dia a mais no mercado este ano e considera que o ponto de equilíbrio
entre oferta e demanda ocorrerá em 2019.
Fracking é a última bolha
especulativa
A questão é que as previsões são
viciadas, na verdade ninguém está entendendo o que acontece. Desde 2012, a AIE
anuncia uma previsão de consumo acima de 90 milhões de barris/dia no mundo. Em
2015 deveria ser 92 milhões de barris/dia. Não há informação de quanto foi
consumido no ano passado, com a queda no consumo da China e a recessão na
Europa e nos países emergentes. Pior: a previsão da Agência Internacional de
Energia é para um consumo de 120 milhões de barris/dia em 2020, ou seja, daqui
quatro anos. Na realidade as previsões escondem as intenções do mercado de
continuar vendendo petróleo, combustível, carros, ou seja, perpetuando o ciclo
do combustível fóssil, que os 195 países presentes na COP 21 recentemente
fizeram juras para mudar, depois de 2020.
O “milagre” americano do
fraturamento hidráulico é a última bolha especulativa do capitalismo
esclerosado, os últimos estudos de várias universidades americanas apontam para
a queda na produção antes de 2020. O analista da Moody’s, Terry Marshall
declarou ao Financial Times “que o mercado de capitais tem sido tão forte e tão
aberto para as empresas de petróleo e gás que muitas delas acabaram criando um
monte de dívidas”. O filme é o mesmo de 2008, agora azar é de quem ficou com o
mico nas mãos, no caso os títulos fatiados dos empréstimos das empresas do
setor que vão virar pó. O diretor de pesquisa de Commodities do Citi Group na
mesma matéria do FT disse:
“- Assim como o mercado de
capitais guiou a indústria a um crescimento espetacular, o setor financeiro vai
conduzi-la à consolidação e a contração”.
Créditos da foto: reprodução
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