Grã-Bretanha e Suécia criticam
decisão da ONU. 'O parecer é uma vitória histórica que não pode ser
contestada', rebateu o fundador do WikiLeaks.
La Jornada // www.cartamaior.com.br
O Grupo de Trabalho sobre
Detenções Arbitrárias da Organização de Nações Unidas (ONU) emitiu ontem um
parecer oficial no qual dá razão ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em
sua longa luta contra as autoridades da Suécia e da Grã-Bretanha. A decisão diz
que Assange deve ser libertado imediatamente e receber uma indenização pelos anos
que perdeu ao estar refugiado sem poder sair da sede diplomática equatoriana em
Londres desde junho de 2012.
O grupo, que responde ao
organismo da ONU responsável pelos direitos humanos, sustenta que Assange tem
sido perseguido arbitrariamente pela Grã-Bretanha e pela Suécia desde dezembro
de 2010, quando foi interrogado pela vez primeira sobre as acusações de suposto
abuso sexual.
A decisão foi imediatamente
rechaçada pelas autoridades de Londres e Estocolmo – ambas alegam que a
situação legal de Assange não muda em nada, apesar do parecer do organismo,
cujas resoluções não são obrigatórias nem vinculantes para os governos.
Após divulgada a notícia, Assange
foi até a sacada da Embaixada do Equador em Londres para expressar sua alegria
pela resolução. “Esta é uma vitória que não se pode negar”, afirmou ele,
enquanto mostrava uma cópia da sentença.
Agregou também que a decisão é
uma vitória de importância histórica não só para ele, sua família e seus
seguidores, mas também para a independência do sistema da ONU. “O Reino Unido
perdeu, a Suécia perdeu”, definiu ele, diante de dezenas de jornalistas e
partidários reunidos na frente da sede diplomática.
Na Suécia, embora não tenha sido
apresentada nenhuma acusação penal contra o ex-hacker, a promotoria do país
quer interrogá-lo sobre as acusações de estupro derivadas de uma visita de
trabalho que ele realizou ao país escandinavo em 2010, quando o WikiLeaks
assombrava o mundo, ocupando as manchetes de todos os diários do planeta,
revelando segredos de Estado. O escândalo surgiu naquele mesmo ano de 2010,
quando o portal de Assange difundiu centenas de milhares de telegramas
diplomáticos confidenciais, em colaboração com alguns meios de comunicação
internacionais, como o The Guardian, Der Spiegel, The New York Times e o La
Jornada, entre outros. Pouco depois, duas mulheres apresentaram uma denúncia
contra o australiano, por agressão e estupro.
Assange negou as acusações, mas
não quis regressar à Suécia para ser entrevistado pela promotoria, e se refugiou
na Embaixada do Equador em Londres, onde vive desde junho de 2012. O ex-hacker
assegura que a Suécia teria já preparado um plano para extraditá-lo aos Estados
Unidos, onde poderia ser julgado e inclusive condenado à morte por espionagem.
Na sacada da embaixada, Assange
entregou uma mensagem aos seus seguidores, onde destacou o caráter histórico da
decisão.
Pouco antes, numa
videoconferência realizada dentro da sede diplomática, ele indicou que esta é
uma vitória que reivindica o seu trabalho e a sua luta.
Porém, a advogada Elisabeth Massi
Fritz, que representa uma das mulheres que o acusa de abuso sexual alegou que o
grupo da ONU, ao parecer, não entende que o estupro é um dos abusos mais sérios
e um atropelo aos direitos humanos. Ela também disse, num comunicado, que se
sente aliviada pelo fato de a resolução não ter força legal.
A decisão não é vinculante, como
sustentam os responsáveis britânicos e suecos, mas pode ser considerara uma
vitória para Assange no campo das relações públicas, por reforça a tese do
australiano de que as acusações são parte de uma armadilha visando levá-lo aos
Estados Unidos.
Jennifer Robinson, uma das
advogadas do australiano, disse que a resolução é uma grande vitória para o seu
defendido.
Contudo, a decisão do grupo não
foi unânime: o ucraniano Vladimir Tochilovsky se mostrou em desacordo com os
outros três membros com direito a voto, porque não acredita que a entidade
tenha mandato para investigar o caso, já que não considera que Assange esteve
preso. Um quinto membro integrante do comitê decidiu não emitir seu voto,
devido ao fato de possuir a mesma nacionalidade de Assange.
O grupo criticou a postura da
Suécia e destacou que Assange nunca foi acusado formalmente, mas sim submetido
a uma investigação preliminar.
O grupo de trabalho sobre
detenções arbitrárias considera que as variadas formas de privação da liberdade
as quais Julian Assange tem sido submetido constituem uma forma de detenção
arbitrária, segundo o explicado pelo presidente do comitê, o sul-coreano
Seong-Phil Hong, em comunicado.
Citando o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos, assinado por 168 estados – incluindo Suécia e
Grã-Bretanha – o comitê apontou que a solução mais adequada seria garantir a
liberdade de movimento de Assange e outorgar a ele um direito efetivo para
obter uma compensação.
Funcionários britânicos asseguram
que o fundador do WikiLeaks é livre e pode abandonar a Embaixada do Equador
quando quiser, porém, seria preso em seguida pela polícia do Reino Unido,
devido a uma ordem de detenção solicitada pela Suécia. A Grã-Bretanha também o
está buscando, por uma acusação de incumprimento das condições de fiança.
O Ministério de Relações
Exteriores do Reino Unido disse que impugnará a decisão.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: reprodução
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