sábado, 5 de agosto de 2017

O Brasil não é um banco privado

Beto Barata


Meirelles gostaria de ser presidente da república e transformar definitivamente o Brasil num banco, sem o obstáculo da intermediação de políticos. Governar o país seria como dirigir um banco privado.

Quando a política tradicional começou a entrar em decadência, surgiu a moda de lançar empresários como candidatos a governos. Seu sucesso na empresa privada supostamente os capacitaria para dirigir o Estado, sobretudo em tempos e que a onda de equilíbrio das contas publicas como objetivo central os governos começava a se impor. Eles seriam bons executivos, não gastariam em excesso, cuidariam de que as contas públicas não tivessem déficit, teriam ótimas relações com os empresários do país e do exterior, etc., etc.

Berlusconi foi o caso mais conhecido e sabemos no que deu. Depois da operação Mãos Limpas terminou sendo o governo mais corrupto da história da Itália, representando um episódio obsceno da política, quando nunca os escândalos, a promiscuidade entre os interesses privados e os públicos, foram mais espetaculares, nunca a política tão degradada.

Na America Latina, Sebastian Piñera, do grupo econômico que possui, entre outras tantas empresas, a Latam, foi outro representante dessa tentativa explícita de capturar o Estado para os interesses privados. Tampouco deu certo. Os estudantes se encarregaram de lhe recordar que que a educação pública não deveria ser paga, como Pinochet, o líder de Piñera, havia instituído no Chile, pelo que ele rapidamente perdeu prestigio e fracassou.

No Equador o banqueiro mais rico do pais Guillerme Lasso, tentou, por duas vezes já ser presidente do pais, mas foi derrotado em ambas. Seu diagnóstico, como o de todos os candidatos de direita atualmente, foi o de que o país se havia endividado muito, de que precisa de mais competitividade, de que o governo havia gasto em excesso.

Todos eles, mais ainda os banqueiros, como Lasso e Meireles, consideram que o país pode ser dirigido como um banco, como se os cidadãos fossem os correntistas ou os acionistas, como se tratasse de administrar o governo na busca de mais retornos financeiros, favorecendo o grande capita especulativo, de onde eles provêm.

Seu sonho seria fazer as instituições governamentais funcionarem como agencias de bancos privados, talvez até mesmo com catracas e policiais, para zelar por quem pode ou não pode entrar. Que o Banco Central passasse definitivamente a ser o governo central do pais. Que A hora do Brasil se confundisse com o balanço do funcionamento diário das bolsas de valores. Que os dias feriados fossem os feriados bancários e os bancos públicos fossem privatizados – Banco do Brazil, por exemplo.

Mas um país não é uma empresa privada, menos ainda um banco privado. Uma empresa privada, seja ela industrial, comercial, agrária ou bancária, funciona para maximizar seus lucros, às expensas do resto da sociedade. Um governo, ao contrário, deveria atuar em função dos interesses, das necessidades e das aspirações de toda a população. Tem lógicas portanto totalmente contraditórias entre si.

"O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos", dizia a máxima conhecida da visão que privatiza o Estado, que identifica o interesse das grandes corporações privadas com as do pais.

Governos como os de Macri e de Temer promovem abertamente os interesses dos grandes bancos privados e das empresas estrangeiras, com executivos do setor financeiro dirigindo diretamente a política econômica dos governos e ocupando postos chaves no governo. Deram um passo importante no caminho da privatização do Estado e da ocupação pelos interesses do capital financeiro de postos essenciais no governo.

Mas um governo democrático tem como agenda os interesses públicos, promoção e garantia dos direitos de todos os indivíduos como cidadãos, como sujeitos de direitos. Ao contrario das visões privatizantes, que tratam o Estado como instrumento da acumulação privada, contra os interesses do pais.

Um pais não é um banco, um governantes não é um CEO, o objetivo dos governos não é o apoio ao lucro privado, mas a defesa dos interesses de todos os indivíduos, tornados cidadãos, isto é, sujeitos de direitos.

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