sábado, 19 de agosto de 2017

Um best-seller no Piauí, por Rui Daher

Reprodução de cena do filme Viramundo (1965), de Geraldo Sarno, sobre migração de nordestinos à São Paulo

Por Rui Daher

Já foi mais, proporcionalmente, muito mais, diria. Lembram do trecho falado por Bethânia ou Nara Leão em “Carcará”, do show “Opinião”. É obrigação citar os autores dessa obra antológica: Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes, João do Valle, Armando Costa, e o diretor Augusto Boal.



Mas assim sempre continuou. Até hoje. Um pequeno intervalo, entre 2005 e 2015, quando se ensaiou um movimento de reversão pelo desenvolvimento de renda, emprego e programas sociais dirigidos para aquela região por Lula.
A imigração nordestina para o Sudeste, principalmente São Paulo, é um fenômeno que construiu a metrópole, hoje “amargarinada” por Doriana Júnior, mas ainda entronizada em nossas periferias e mesmo em âmagos burgueses.

Hoje em dia, somados o economicismo rentista de Temer e Meirelles e a decadência da Capital, em minhas andanças pelos GGN e CartaCapital, percebo o movimento imigratório se deslocando para o interior do estado de São Paulo, onde os encontro e me divirto, ouvindo histórias longínquas desses queridos nordestinos, prestando serviços onde são menores os sinais de crise graças aos agronegócios.

Faço um parêntesis. Nota-se nos guetos de luxo da Capital ajuntamentos interessantes, vindos de lugarejos do Nordeste, onde uns vão chamando outros, por parentesco ou afinidade, para trabalharem aqui, em serviços. Numa mesma rua, vocês podem encontrar vários deles, da mesma cidade, que aqui se juntam em seus hábitos e culturas, para fazer-me feliz e, no meu caso, idade tivesse, levar para estudo nos barracões da Ciências Sociais. Restam-me as conversas noturnas com Darcy Ribeiro.

Meu causo vem de Piracicaba. Lá, onde vou amiúde, depois do trabalho, conforme relatado no “Dominó de Botequim”, não deixo de visitar meus amigos da Botecaria Villinha, numa rua que corre paralela à Rua do Porto e ao jubiloso Rio de Piracicaba. Lá fiz muitos amigos. Fora Valdéris, o proprietário, gaúcho, se não me engano de Ijuí, a maioria dos garçons da Botecaria e de outros bares e restaurantes, veio de Dom Pedro II, município com 35 mil habitantes, no Piauí. Mesma mecânica, um foi chamando os outros. Estão contentes com Piracicaba, e passam suas férias no Piauí. Querem Brasil melhor? Sim. Eu também o idealizo, mas pelo menos estamos aí.


Lá deixei cinco livros e propus: “Vendendo, 1/3 vai para a casa; 1/3 pro menino que vender; e 1/3 pra mim em desconto nos itens líquidos que eu consumir”. Valdéris respondeu: “Esquece a casa: meio a meio entre os meninos e você”. Feito.
Na última vez que estive lá, Tomaz Souza, o Tomazinho, um dos meninos de Dom Pedro II, chega com duas notas: valor três Opalas. A cidade de Tomaz tem uma moeda que funciona como o real, a opala (ver foto no post), homenagem ao local onde se encontram as únicas minas da pedra no Brasil. Fica a 200 km de Teresina. Pesquisem, vale a pena.
O “Dominó de Botequim” pode ter sido desclassificado do Prêmio Jabuti por falha no preenchimento de uma ficha catalográfica, mas é o melhor livro de crônicas publicado em 2016 e o único vendido por três opalas.
Obrigado, Grande Tomaz Souza e todo o povo de Dom Pedro II (PI), em Piracicaba.





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