domingo, 14 de outubro de 2018

Bolsonaro só respeita aquilo que ele teme

Antonio Augusto/Agência Câmara


Segundo o filósofo Jair Bolsonaro, as pessoas só respeitam aquilo que temem. Isso deve começar na relação pai-filho: se o filho não temer o pai, não o respeitará. Segue com a mãe e outros membros da família, que devem ser temidos para serem respeitados. Também no colégio: o professor deve se fazer temer, do contrário não terá respeito. É claro que o princípio se estende ao universo religioso: pastor e padre, para serem respeitados, devem ser temidos. Finalmente a polícia, ela deve ser sobretudo temida para ser respeitada.

Creio que o homem comum, despido de maiores considerações filosóficas, não percebeu a monstruosidade desse conceito de Bolsonaro. Ele agride diretamente a base da democracia e dos direitos humanos. A relação democrática é fundamentalmente entre iguais e não suporta a ideia de que seja governada pelo temor. Também a base da ética é o respeito mútuo, não o temor. A própria liberdade se baseia no respeito, e não no medo. A vida seria insuportável se fôssemos governados, todos, pelo medo e não pelo respeito.

Mesmo os liderais radicais, aqueles que pregam a liberdade sem limites, em algum sentido prático devem se submeter ao conceito do respeito mútuo, pois do contrário podem se submeter a grandes riscos na vida. Já os democratas, de um ponto de vista filosófico, estão firmemente ancorados na força do respeito. É que democracia, ao contrário de liberalismo radical, é a liberdade de estabelecer os próprios limites numa ordem social comum. Isso significa fundamentalmente respeito ao outro, sem medo.

Evidentemente que o filósofo Jair Bolsonaro, se sua regra vale universalmente, só respeita quem lhe faz medo. Talvez por isso, a fim de escapar de constrangimentos, ele se adianta aos demais e promove, ele próprio, o medo generalizado da sociedade brasileira. Ele se aproveita de uma situação em que as instituições da República, de tão desmoralizadas, não reagem a suas provocações aviltantes. As declarações deles são acintosas, centradas em questões de comportamento, mas não raro violentas do ponto de vista político.

Se tivéssemos ministro da Justiça, ele teria de mandar processar Bolsonaro quando ele pregou abertamente o não pagamento de impostos, como se isso não significasse um estímulo ao desmoronamento das estruturas do Estado. Também teria de processá-lo quando falou na necessidade de matar umas 30 mil pessoas, nomeando inclusive o ex-presidente Fernando Henrique, para completar o serviço da ditadura. Nesse sentido, ele é um projeto de assassino à solta, com a total condescendência dos nossos fraquíssimos órgãos de Estado.

As democracias, por definição, são frágeis. Sabemos disso desde Platão. Os demagogos são os assassinos das democracias pois se aproveitam de alguns de seus predicados, notadamente a liberdade da palavra e a liberdade de imprensa, para liquidar com a ordem democrática. O nazismo foi o produto de uma democracia frágil. Na verdade, a Constituição de Weimar, considerada universalmente na Europa como um primor de carta democrática, sucumbiu facilmente ao primeiro sopro do nazismo. Portanto, vigiai e orai!

Jose Carlos de Assis

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