domingo, 13 de dezembro de 2020

Luis Felipe Miguel cobra autocrítica da Folha e diz que o jornal também foi delinquente


Por Luis Felipe Miguel - Que editorial "forte" da Folha, não é mesmo? Pediu um basta à "estupidez assassina" do Bozo. Chamou o general da saúde de "fantoche apalermado". 

E foi assim até o final. 

Publicado na capa e tudo.

Mas, fora algum efeito catártico, de que serve essa cortina de palavras?

A Folha e os outros órgãos da imprensa corporativa que agora esbravejam contra Bolsonaro, incluindo a própria Globo, estão dispostos a assumir sua parcela de responsabilidade por termos chegado aonde chegamos?

Ninguém previa o coronavírus, mas o desmonte da saúde pública sempre foi parte do projeto vitorioso no Brasil dos últimos anos.

A imprensa corporativa e a burguesia cujos interesses ela expressa promoveram o golpe de 2016, a emenda de limitação do investimento público, todos os esforços de destruição do Estado brasileiro. 

O compromisso com essa mesma agenda foi o que exigiram de Bolsonaro para apoiá-lo.

Até hoje, a política de Guedes - à qual a qualificação de "estupidez assassina" também cairia como uma luva - é protegida da crítica. 

O editorial da Folha, por exemplo, nem menciona o ministro da Economia, como se ele não tivesse nenhuma parcela de culpa pelo desastre.

A ausência de vacinação no Brasil é a famosa tragédia anunciada. 

Uma parte importante da responsabilidade é da nossa direita pretensamente civilizada e iluminista, que mesmo nas circunstâncias atuais mantém como prioridade impedir que o campo popular volte a ser admitido como interlocutor do debate público - e para isso continua em aliança tácita com a extrema-direita.

Não basta xingar Bolsonaro e Pazuello. 

Quero ver a autocrítica da Folha, que se comportou - em relação à democracia e ao progresso social do Brasil - com a mesma "irresponsabilidade delinquente" que ela corretamente atribui ao governo atual no tratamento da crise sanitária.

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